sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Um barrete que de nada serve

Consecutivamente na mesma semana - primeiro na Briefing, depois no Expresso - surgiram as previsões de facturação de várias consultoras de comunicação para 2007.

Das cinco repetentes nos quadros das duas peças, quatro apresentam facturações diferentes de um meio para outro, recordando eu que os dados foram, em ambos os casos, fornecidos pelas próprias agências. (por uma questão de honestidade intelectual, refira-se que em dois dos quatro casos as diferenças são pequenas - na ordem dos 100 mil euros).

Mas descontando esta curiosidade, mais relevante é saber que na maioria dos casos estas facturações são delírios das agências. Não são reais e contrariam até o que muitos dos citados nos artigos dizem em conversas privadas.

Em segundo lugar, as facturações das agências podem ter tanta coisa lá dentro que não faz sentido pensar nelas como referência, quanto mais de "absoluta prioridade", como diz Alexandre Cordeiro, presidente da APECOM. Na verdade e ao contrário dos grupos de publicidade em que o grosso da facturação vem do core, nomeadamente design, campanhas, produção, compra de espaço, etc., na comunicação institucional existem ferramentas que se afastam da consultoria e assessoria, mas que no bolo total contam, percentualmente, muito, e que enviesam a leitura das facturações. Falo de eventos, custom publishing (revistas, newsletters), produção, e até compra de espaço.

Prefiro não entrar na charada dos números. Como expliquei: muitos não são reais e os que são não têm relevância.*

Sei que o Grupo YoungNetwork está entre as maiores consultores de comunicação. Em número de clientes. Em número de consultores. E, provavelmente, em facturação também. But who cares? Ninguém nos contrata por isso.

* Nota: Não têm relevância em termos de análise comparativa. No que diz respeito ao negócio de cada um, claro que têm relevância.

Dossier Consultores de Comunicação (II)

Alexandre Cordeiro, presidente da Associação, deu uma entrevista, integrada no Dossier da Briefing, e deixou as seguintes mensagens:

- A mais-valia de pertencer à APECOM é a "adesão automática a códigos de ética e de conduta...";
- Pressão nos honorários das agências;
- Falta de disponibilidade de recursos humanos;
- Clientes com orçamentos pequenos;
- Prioridade absoluta na divulgação da facturação das agências;
- Transparência (na divulgação das contas) já está a ser tida em conta na hora das empresas contratarem os serviços de uma consultora;
- O mercado define o preço;
- Existência de concursos não é obrigatória.

Dossier Consultores de Comunicação (I)

Li hoje o dossier que a revista Briefing fez sobre consultores de comunicação.

O sector visto pelas agências, e relatado na Briefing:

- Acabou o choradinho de muitas consultoras. O mercado define o preço;
- Alguns, poucos, querem regulação (para concursos e preços);
- A assessoria mediática ainda é dos serviços mais procurados;
- A consultoria estratégica está em crescendo;
- Jornalistas económicos (Jornal de Negócios e Diário Económico) referem que as agências ajudam a organizar a informação, e que cabe aos jornalistas enriquecer a notícia ou procurá-la para além dessa fonte;
- Clientes têm recursos escassos que tolhem a criatividade;
- Há contas ganhas em concurso e outras por adjudicação directa;
- O modelo de remuneração vigente basea-se em horas e valor por tipo de recurso, em linha com outras disciplinas de consultoria;
- Dificuldade em contratar recursos humanos qualificados;
- Existe espaço para agências especializadas;
- Há promessas de internacionalização, mas não concretizadas, para já.

O que eu não li desta vez:

- O Press Release "morreu";
- Haverá concentração no sector.

Citados na Briefing


do fundo da Comunicação citado pela Briefing na passada quarta-feira.

Um em cada dez

Diz-me um amigo - Francisco Froes, presidente da AMBA - Associação de Antigos Alunos dos MBA da Universidade Nova - que o importante é falar com os CEO's das empresas. Porquê? Porque decidem, e melhor ainda, em cada dez, nove são bons e um não presta, não tem caracter, faz género de cobarde, ou, simplesmente, é um pateta.

Serve este lema do Francisco, para situar a minha aventura de hoje de manhã. Reunião marcada (ou melhor re-marcada) na terça ou na quarta para hoje às 9 da manhã numa empresa. Assunto: New Business.

Saio de casa cedo, passo antes pela agência, para "checar" de novo rua e número do potencial cliente. Enfio-me no carro às nove menos um quarto, e chego ao Saldanha às nove em ponto. Decido estacionar no Monumental e estou no escritório do potencial cliente às 9:10, pronto para a reunião.

Cumprimento a senhora da recepção, que me diz para aguardar na sala. E logo, de seguida, surge uma outra senhora, com o discurso engatilhado: "O doutor já não o vai poder receber. Tem uma reunião às 10."

Apesar de surpreendido, respondo com desalento: "Penso que ainda há tempo..."

Sendo de pronto interrompido: "Não. A reunião é fora, e o doutor tem de tratar antes de outras coisas."

"Bom dia.", termino. O que mais haveria de dizer.

Sem nenhuma sugestão de re-marcação, e pela eventual "birra" pelos dez minutos, percebo que não há intenção de ter a reunião, o que é mais esquizofrénico se pensarmos que foi a empresa que nos contactou.

Antes estas situações sabiam-se pelo passa-palavra (que não vai deixar de acontecer) e chegavam a algumas pessoas. Agora escrevem-se num blog e chegam a muita gente. A comunicação da empresa, a forma como interage com todos os stakeholders (não só clientes) é muito importante para a reputação de uma empresa. A maioria das empresas não o percebe. Talvez esta nos tentasse contratar para o executar.

Com este meu post levanta-se uma crise de comunicação nessa empresa. Por cá, sei que estatisticamente as minhas próximas nove conversas serão com bons CEO's.

PS: Dedico este meu post a Pedro Passos Cunha, da Ray Human Capital.