terça-feira, 22 de abril de 2008

Chanel, je t’aime

Passamos a vida a ouvir que “ninguém é insubstituível” ou, numa versão mais esclarecedora, que “o cemitério está cheio de insubstituíveis”.

Tomamos este dado como um axioma nas nossas vidas. Serve-nos muito vezes para comunicar perdas, saídas ou substituições. Relativiza-se a importância de todos. Mas todos não são alguns. Todos não são poucos. Todos não são muito poucos.

Na verdade, existem alguns, os especiais, que não são substituíveis. Por um conjunto de razões. Por talento, por liderança, por notoriedade, pelo mito, pela tragédia.

Alguém já encontrou substituto para o autor dos Lusíadas? E para Fernando Pessoa? Quem substituiu Maradona como dez na Argentina? E quais os novos ícones que nos fazem esquecer JFK ou Marlin Monroe? Júlio César também só houve um. Assim como Jesus Cristo.

E quem substitui os especiais – família e amigos – de cada um de nós? Que venha alguém dizer que os meus especiais são substituíveis.

Claro que se o critério é o numérico, o de encher, então afirmamos com propriedade que depois de Camões tivemos muitos outros escritores, que a selecção da Argentina continuou a jogar com 11, que os Estados Unidos não ficaram sem presidente e que a Igreja prosseguiu a sua afirmação.

Mas isto é confundir o inconfundível. A chusma de substitutos não substituiu o original. E para se ser original, difícil de substituir ou insubstituível é preciso ser diferente. Diferente todos os dias, para que a cópia de ontem seja inferior à novidade de hoje. Disse a insubstituível Coco Chanel um dia, “se quisermos ser insubstituíveis temos de ser sempre diferentes”.