quarta-feira, 16 de abril de 2008

A bela Itália (II) e o marketing político

No marketing político há preceitos, teorias e truques gerais, mas tudo varia consoante a cultura dos povos.
Não há soluções e sugestões aplicadas num local que tenham garantidamente aplicação de sucesso noutro lugar do planeta.
Senão, vejamos, como seria a reacção em Portugal, nos EUA, em Inglaterra a estas declarações:
«Itália é um grande país para os investidores…hoje temos menos comunistas e os que ficam negam tê-lo sido. Outra razão de peso para investir em Itália é que temos belas secretárias…raparigas soberbas».
«Desta vez não vou mandar mulheres bonitas para deputadas…temos outras coisas boas para fazer com elas».
Em qualquer parte do mundo, um líder político seria trucidado por estas declarações machistas.
Mas estamos em Itália e estas palavras são de Sílvio Berlusconi.
E isto, para quem conhece Itália, está muito mais próximo da sua cultura do que fórmulas copiadas a Obama.
Por isso ganha. E ainda por cima porque tem o Milão (futebol), a Mediaset (televisão e os canais que mais despem as bailarinas e assistentes de programas) e é milionário.
Itália é a pátria de “La Piovra”, não nos podemos esquecer disso.

A bela Itália (I)

No último comício do PD, Walter Veltroni, discursou: «A Itália fantástica que trabalha, que pensa, que se cansa, que acredita e que quer mudar merece uma política nova».
Veltroni falou em «si, puo fare», copiando Obama e da imprensa internacional – quem a lê – reparou como os meios mais à esquerda, por exemplo, “Le Monde” e “El País” fizeram uma campanha fortíssima a favor do “síndaco” (presidente de câmara) de Roma.
Mas Veltroni não é um homem novo e veio da área comunista onde foi até director do “L`Unitá”, uma espécie de “Avante” da bota. Conseguiu irritar Berlusconi, porque em campanha nunca referiu o nome dele (algo impensável para um “umbiguista”), mas não chegou.
O mago das campanhas da Benetton, Oliviero Toscani, declarava na quinta feira ao El País (mas por trabalho, ainda não tinha referido): «Morreremos vestidos na última moda, mas idiotas».
«O produto de pior qualidade em Itália é a política. Os piores profissionais do país são os políticos. Por isso Itália está assim».
Veltroni, apesar de ter unido a esquerda no Partido Democrático, não passou. Berlusconi está muito mais perto da alma italiana do que um intelectual de óculos.
Aliás, já repararam que quem usa óculos não passa e perde? Explicarei porquê, oportunamente.

Mas que grande notícia!


Cabaço à presidência já! O número um criativo na EuroRSCG americana é nosso. Conheci-o há seis anos quando a YoungNetwork fez a comunicação da fusão entre a Grey e a Home, da qual resultaria a GreyHome. Num rectângulo onde rareia o talento criativo na publicidade, olhar para o exemplo do Zé Ricardo é motivo para nos regozijarmos. Que prazer me deu ler esta notícia. A história mais completa aqui, na Meios.

Embala-nos Smith que eu gosto

Leio que há “bastantes agências a perder dinheiro” – Jorge Marques, presidente da Strat, in Briefing.

And? What’s the point?

As que perdem durante pouco tempo, recuperam mais à frente.

As que perdem durante muito tempo fecham, saem de jogo, diminuem a concorrência para as outras. Talvez haja agências de publicidade a mais, talvez estejam sobredimensionadas, talvez sejam ineficientes.

Ficam as outras, poucas ou bastantes, que já faziam dinheiro ou que perdiam até há pouco tempo, as que vivem segundo Darwin e se adaptam.

A “mão invisível” de Adam Smith a embalar o mercado.