quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Psicologia dos gestores da massa


Com a crise instalada, muitas são as empresas que cortam. Neste final de ano, uma das faces visíveis da tesourada são as festas de Natal. Não há dinheiro, não há vícios. Cancele-se a festa!

Este acto de gestão, tomado como lógico por gestores e colaboradores, é demasiado questionável.

Primeiro, é contraditório. Porque se corta agora e não se cortou antes, quando os resultados estavam pintados a azul? Apenas porque havia dinheiro para gastar? E as empresas dão, então, um doce aos colaboradores? É este o sentido? Qual a razão por detrás da festa de Natal? É que se não existe nenhuma razão forte para que ela aconteça, cortem. Não apenas este ano, cortem para sempre.

Segundo, é inoportuno. Por outro lado, se existem razões fortes para que ela se faça - tais como motivação, reforço de espírito de grupo, endosso de mensagens, manutenção de quadros, reputação, etc. – e que impactem directa ou indirectamente os resultados, do curto ao longo prazo, vale a pena fazer. E é sobretudo importante fazê-la este ano, quando os colaboradores estão mais desconfortáveis com a situação, mais receosos com o futuro das suas empresas, e respectivas consequências para os seus postos de trabalho. Agora é que eles precisam de alento e segurança, não quando estão a crescer a dois dígitos e o mundo parece perfeito.

Terceiro, é perder a oportunidade. Como muitas empresas vão na onda, este ano impacta mais fazer. É um sinal de quem confia no seu futuro e no futuro dos seus, de quem se sente preparado para sair mais forte da tempestade. O sinal que separa os audazes das avestruzes. Esconder a cabeça não é uma opção.

Quarto, é hipotecar o futuro. O público mais estratégico numa empresa é o interno. Investir nos colaboradores é a forma mais inteligente de chegar aos outros stakeholders. Garantir que os colaboradores estão com a empresa, que passem a sua mensagem e os seus valores ao mercado, que sejam os seus embaixadores em toda a linha, e que estejam alinhados com os objectivos é o melhor seguro para o futuro.

A psicologia não é só de massas, é também de gestores. Gestores que por uma variação de um ou dois pontos percentuais do PIB voltam da Lua para Terra, entre um fechar e um abrir de olhos.

2 comentários:

Telmo Carrapa disse...

"É um sinal de quem confia no seu futuro e no futuro dos seus, de quem se sente preparado para sair mais forte da tempestade. O sinal que separa os audazes das avestruzes. Esconder a cabeça não é uma opção."

Caro João, não podia estar mais de acordo. É nestas alturas que se se distinguem os gestores dos aprendizes. E enfrentar fazendo e não escondendo a cabeça na areia é sinónimo de capacidade. Infelizmente rara entre muitos gestores da praça...

Um abraço,
Telmo

Anónimo disse...

Obrigado Telmo.

Amanhã publico a segunda parte desse tema.

está na cabeça, não no papel.

abr

jd