segunda-feira, 19 de maio de 2008

O guterrismo de Sócrates

Nestes meses em que não tem oposição – apenas a provocada pela maldita nicotina – José Sócrates tem vindo a testar o que será o seu estilo até às próximas legislativas.
O caso mais interessante de analisar é o de Ana Jorge, na Saúde. Tirando a parte de estar bem assessorada e aconselhada, a ministra é uma conhecedora profunda do sector, mulher atenta, com ideias próprias e muito profissional. Quem a conhece – antes de ser ministra – diz maravilhas.
Ao escolhê-la, o PM neutralizou a ala esquerda do PS, nomeadamente Manuel Alegre, de quem Ana Jorge foi apoiante, e que nunca mais disparou sobre a área como acontecia com Correia de Campos.
Depois, eliminou um ego. O ex-ministro adora olhar para o umbigo e julgava-se o supra-sumo da Saúde. Queria deixar marca e ficar na história. E isso é péssimo na actualidade política, pois só o tempo é que determina quem não passa de nota de rodapé.
Assim, a opção foi correcta. A ministra saiu de cena, sacudiu os conflitos e entrou na onda que marcará este ano para Sócrates.
Sem praticamente mudar uma linha das políticas do antecessor, dialogou com os diversos “players”, arejou a casa, suavizou a imagem e abomina o conflito, apesar de ser dura quando é preciso.
Ana Jorge – exceptuando o erro da semana passada que deu problemas aos assessores do PM – é a face mais visível deste guterrismo de Sócrates.
Mais diálogo, mais humildade – sem medo de pedir desculpa, como no caso voo para Caracas – mais suavidade. Mas sem perda de controlo.

PS: Este artigo foi publicado no OJE, dia 16 de Maio

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