domingo, 20 de abril de 2008

Ótima ação

O corrector do Word sublinha estas duas palavras a vermelho, mas elas estarão correctas dentro de pouco tempo. As consoantes que não dizemos apagar-se-ão na grafia das nossas palavras, segundo o novo acordo ortográfico, redigido há 17 anos.

Esta é uma das alterações. Desde 1911, quando ocorreu a primeira grande reforma ortográfica no nosso país, que esperamos uma unificação entre as várias formas que o português tomou com o passar dos anos. No início do século passado fez-se a reforma à margem do Brasil, e não tendo havido entendimento posterior, a grafia dos dois países divergiu.

Não gostamos de mudança. Não gostamos porque no imediato provoca-nos sempre desconforto. Dá trabalho habituarmo-nos a novos paradigmas. Mesmo que rapidamente fiquemos numa situação melhor que a anterior, o período de adaptação é incómodo. Por esta razão, na hora da mudança, como agora acontece com o novo acordo ortográfico, invocam-se muitos argumentos para deixar tudo como está.

A pertinência do acordo, segundo o livro “atual - O novo acordo ortográfico”, de João Malaca Casteleiro e Pedro Dinis Correia, deve-se a razões históricas, de lusofonia e pedagógicas. O acordo, por ratificar e que afecta apenas a grafia da escrita, fecha 100 anos de divergência e é essencial para unificar a ortografia de oito países e de dezenas de organizações internacionais, facilitando também a aprendizagem da própria língua portuguesa.

Ao todo existem no mundo mais de 200 milhões de pessoas a falar português, e devia ser hoje claro para todos que não ratificar o acordo – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já deram o ok – seria um suicídio para o português de Portugal. Que peso teriam os nossos dez milhões contra os 160 milhões do país irmão? Participando garantimos algum voto na matéria.

2 comentários:

Orlando Braga disse...

O "peso do português de 10 milhões" deve subjugar a dignidade desses 10 milhões e a racionalidade de uma reforma? Toda dignidade tem um preço? A Razão é descartável em função de um bom negócio, por mais irracional que esse negocio seja? "Cágado ou cagado"?

Anónimo disse...

Caro Orlando,

Percebo a utilização exaustiva de cágado ou cagado. Cágado continuará sempre a ler-se com acento, mesmo que o acento caia graficamente. Mas esta regra como disse num post à frente é a mais infeliz.

Quanto ao peso, à dignidade, ao negócio, posso-lhe dizer que o "seu" actual português e o "meu" actual português talvez não sejam dignos, não tenham peso, porque foram alienados em negócio, por volta de 1911, quando fizémos a primeira grande reforma ortográfica do português.

A evolução também faz parte da língua, que não deixa, no nosso caso, de ser digna, por ter evoluído do latim.