Em todos os palcos da vida, as grandes personagens sabem sair.
Joaquim Chissano acaba de receber milhões de dólares de prémio por ter, ao contrário dos artistas da rapinagem e déspotas africanos, encontrado o seu caminho longe do poder executivo em Moçambique.
Este domingo, ao ler os jornais espanhóis, vi três figuras que durante a vida aprendi a respeitar. Pascuall Maragall, um dos homens que ajudou a marca Barcelona a ser o que é, retirou-se – com muita coragem – da vida política para travar o seu último combate: contra o Alzheimer.
No suplemento económico do “ABC”, vi um “príncipe” cultíssimo, mais vezes conhecido por ser casado com Isabel Preysler, a ex-de Júlio Iglésias, Miguel Boyer. Um ex-ministro da Economia, na época áurea de Felipe González, que quando lhe perguntavam quais os desportos que praticava respondia: “ler e nadar no Verão”. E que recordava uma máxima, do seu tempo de acção política, que ouvia de González, mas era de Olof Palme: “dá sempre 90% de razão ao teu ministro da Economia – quando ele é bom – os outros 10% dá ao da Justiça”.
E, por último, uma figura carismática da Nova Espanha, um ícone do sucesso e da explosão da força empresarial espanhola: Mário Conde. Fez capa do “El Mundo”, numa imagem trágica, magro, rosto sulcado pelas rugas, cabelo branco, bem longe do vendedor de sonhos, de gravata com a tromba de elefantes levantada – que lhe dava sorte – que marcou uma era e um grupo poderoso em Espanha. Conde foi uma espécie de Mourinho espanhol, bajulado por toda a elite empresarial e política.
Saiu de cena há uns anos, depois de passar por uma cela, hoje, é um homem só e perdeu o seu último baluarte: a sua mulher.
Três imagens fantásticas de quem (em dois casos) soube sair com honra, deixando saudades. À sua maneira ficarão na história.
Por isso, fica uma dúvida: quem está a fabricar a queda de um ícone, a destruição de um caso de sucesso como o BCP? E o que impede Jardim Gonçalves e o seu clã de abandonar uma instituição que hoje perdeu toda a credibilidade da sua marca? Não há honra nem vergonha?
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Saber sair
Publicada por Rui Calafate à(s) 11:15:00
Etiquetas: BCP, do fundo da comunicação, espanha. Mario Conde, Miguel Boyer, Rui Calafate, youngnetwork
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