terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lampedusa na Casa Branca

Simples o que se vai passar a partir de amanhã. Se ganhar McCain – muito difícil – tudo vai ficar na mesma.
Se ganhar Obama, temos o que escreveu Tomasi di Lampedusa no “Leopardo”: «vai mudar tudo, para ficar tudo na mesma».

Obama e «os heróis esquecidos da América»

Ontem, em directo na CNN, vi Barack Obama construir uma das mais belas peças de oratória que ouvi em muito anos.
Em directo da Carolina do Norte, o senador do Illinois homenageava a avó que não suportou o cancro e não viu o resultado que o neto terá hoje.
Relembre-se que a mãe de Obama também morreu de cancro e ele não pôde acompanhar os seus últimos dias. Desta vez, Obama interrompeu a campanha para visitar a sua avó.
Obama falou dos americanos que não são mediáticos e não aparecem nos jornais. Mães, pais, avós, que lutam para a sobrevivência e sucesso das suas famílias, «os heróis esquecidos da América».
Neste último dia, Obama cresceu dois pontos nas sondagens nacionais.

PS: há algum tempo que o Nuno Gouveia – que construiu um grande blog sobre as eleições americanas – aceitou o meu repto e escreveu sobre a relação dos media com os gigantescos “staffs” dos candidatos. Ainda estou para também teorizar sobre o mesmo, vai ficar para o pós 4 de Novembro.

Quem é quem

Eleições americanas: verifique os nomes dos braços direitos e esquerdos dos candidatos no Behind the Candidates.

Os ataques de Menezes

Sou amigo de Luís Filipe Menezes há alguns anos. Tenho muita simpatia, é um bom político e um grande autarca, um dos melhores do país.
Tenho pena da maneira como lhe correu a sua liderança, mas quem se rodeia em áreas estratégicas de alguns incompetentes e amadores já sabe que é mais difícil a vida. Numa área tenho a consciência tranquila, porque sei que foi devidamente avisado.
Agora, pelo menos uma vez por semana, Luís Filipe Menezes arrasa Manuela Ferreira Leite. Começou com uma genial entrevista a Mário Crespo onde mostrou ideias e de como se deve fazer oposição a sério.
Porém, o que é demais chateia. E agora está a ser um pouco insistente, por muito boa razão que possa ter.
Menezes devia ter em atenção um velho adágio de Confúcio: «antes de partir para uma viagem de vingança, cave duas sepulturas».

Portugal é gente! *

Uma das coisas mais intrigantes no nosso país é a falta de vergonha, a falta de preocupação com o futuro, o gosto pelo supérfluo.
Portugal é um país paupérrimo que continua a surfar na crista da onda. Vários sinais de endividamento, de pessoas que vendem casas, carros e hipotecam o seu futuro, mas um constante estado de espírito de alheamento.
É Carla Matadinho que pinta o cabelo e diz que está mais “sofisticada”, é Isabel Figueira que quer ter o peito maior ou Luciana Abreu que vai usar “calças e blusa” em vez de calções e decotes. É a novela roubada de Miguel Sousa Tavares e os estivadores que ameaçam Miguel Sousa Tavares.
É mais um punhado de histórias irrelevantes, o ópio de um povo que dá audiências a Tertúlias Cor-de-Rosa e a revistas “del córazon” com um jet-set que é apenas “jet 4”, falido, medíocre que sobrevive a pedinchar de festa em festa.
Portugal é um país frágil, sem soluções, adiado, sem perspectivas nem futuro.
Mas ainda mais enredado porque na oposição assistimos diariamente a um exercício de contabilidade. É tempo de dizer ao PSD que Portugal não são números, é gente.
Gente que precisa de uma palavra de alento, de esperança. Hoje, continua a parecer – e as sondagens assim o indicam – que o “vendedor de sonhos” continua a ser José Sócrates. Quando esses sonhos já não pegam.
Manuela Ferreira Leite – e os seus especialistas em comunicação – já descortinou que o silêncio foi um erro.
Está a tentar acertar, mas tem de fazer muito mais e melhor, porque o tempo passa e menos tempo há de voltar a acreditar numa alternativa.

* Publicado sexta-feira no OJE