sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Saber sair

Em todos os palcos da vida, as grandes personagens sabem sair.
Joaquim Chissano acaba de receber milhões de dólares de prémio por ter, ao contrário dos artistas da rapinagem e déspotas africanos, encontrado o seu caminho longe do poder executivo em Moçambique.
Este domingo, ao ler os jornais espanhóis, vi três figuras que durante a vida aprendi a respeitar. Pascuall Maragall, um dos homens que ajudou a marca Barcelona a ser o que é, retirou-se – com muita coragem – da vida política para travar o seu último combate: contra o Alzheimer.
No suplemento económico do “ABC”, vi um “príncipe” cultíssimo, mais vezes conhecido por ser casado com Isabel Preysler, a ex-de Júlio Iglésias, Miguel Boyer. Um ex-ministro da Economia, na época áurea de Felipe González, que quando lhe perguntavam quais os desportos que praticava respondia: “ler e nadar no Verão”. E que recordava uma máxima, do seu tempo de acção política, que ouvia de González, mas era de Olof Palme: “dá sempre 90% de razão ao teu ministro da Economia – quando ele é bom – os outros 10% dá ao da Justiça”.
E, por último, uma figura carismática da Nova Espanha, um ícone do sucesso e da explosão da força empresarial espanhola: Mário Conde. Fez capa do “El Mundo”, numa imagem trágica, magro, rosto sulcado pelas rugas, cabelo branco, bem longe do vendedor de sonhos, de gravata com a tromba de elefantes levantada – que lhe dava sorte – que marcou uma era e um grupo poderoso em Espanha. Conde foi uma espécie de Mourinho espanhol, bajulado por toda a elite empresarial e política.
Saiu de cena há uns anos, depois de passar por uma cela, hoje, é um homem só e perdeu o seu último baluarte: a sua mulher.
Três imagens fantásticas de quem (em dois casos) soube sair com honra, deixando saudades. À sua maneira ficarão na história.
Por isso, fica uma dúvida: quem está a fabricar a queda de um ícone, a destruição de um caso de sucesso como o BCP? E o que impede Jardim Gonçalves e o seu clã de abandonar uma instituição que hoje perdeu toda a credibilidade da sua marca? Não há honra nem vergonha?