terça-feira, 13 de novembro de 2007

Silêncio contundente

Farto dos insultos de Hugo Chávez e Daniel Ortega a José María Aznar e às empresas espanholas, o Rei de Espanha mandou calar energicamente o presidente venezuelano, para depois abandonar a sala de forma ostensiva como resposta aos impropérios do chefe de Estado da Nicarágua.

A força das palavras e da linguagem corporal não vale só por si. Vale sobretudo o prestígio, a autoridade e a credibilidade de quem se expressa. E conta o ineditismo das palavras ou gestos, para amplificar a contundência. Nunca em 32 anos de reinado, o Rei Juan Carlos tinha tido gestos tão simbólicos como os do último fim-de-semana no Chile. O gesto de Juan Carlos foi um cartão vermelho, não apenas de Espanha, mas de todos os outros países conscientes que o caminho escolhido por Chavez é um suícidio, não só para a Venezuela, como também para toda a América do Sul.

Em Portugal, o político que melhor geriu a sua comunicação nos últimos 20 anos responde pelo nome de Cavaco Silva. Um mestre na forma de comunicar, embora por falsa modéstia o tenha negado sempre, aproveitando a deixa dos Media que sempre menosprezaram as suas capacidades oratórias. Em Cavaco Silva, a estratégia impôs-se à forma e o silêncio mostrou ser bom companheiro.

Entre 1995 e 2005, a sua ausência caminhou paralela com a presidência de Jorge Sampaio, mas são dele e não da primeira figura de Estado as palavras que influenciam a sorte dos Governos nessa altura. Quem não se recorda do monstro que "comeu" Guterres, precipitando o seu fim, e da boa e má moeda que expôs a falência do santanismo?

Dois textos que detonaram dois governos.

3 comentários:

pas2 disse...

Sinceramente, o rei de Espanha perdeu esse seu prestigio. O que pretendia ele? Imitar o Sarkosy? O mundo procura a democracia e não a monarquia. Nesta perspectiva Chavez tem mais credibilidade que um rei. Chavez faz periodicamente eleições intercalares democráticas e livres nas quais ganha sempre com maioria absoluta. Independentemente do rumo que ele dê ao seu pais, não deixa de ser legitimo. Contra este argumento democrático que credibilidade pode ter um rei?
Gostava de ter visto qual teria sido a reacção dos media se tivesse sido o Sarkosy ou a Angela Merkel a mandar calar sua majestade Juan Carlos!

(Que a melhor palavra do Cavaco é o silencio, isso não é novidade. Foi sempre assim que ele ganhou as eleições).

Unknown disse...

Cara Sof, acho que não perdeu prestígio. Quem leu os editoriais dos jornais espanhóis do fim-de-semana não fica com essa ideia. Juan Carlos sai reforçado com essa posição no seu país, e possivelmente em quase todos os países ocidentais. E tem mais força ainda por ser inédita, vir de quem vem, e porque é um tema muito caro ao próprio rei, pelo legado do franquismo.

Apesar da monarquia, Espanha vive numa democracia: quem manda no país é o primeiro-ministro e esse é eleito também.

No caso de Chavez, ter sido eleito democraticamente não é justificação para tudo. O que seria se em Portugal José Sócrates tivesse um programa semanal na televisão de quatro ou cinco horas.

É difícil classificar de democracia um país sem Imprensa livre.

Estive recentemente em Londres com um consultor de comunicação venezuelano, que diz que a máquina do Chavez controla todos os poderes actualmente, sendo alta a probabilidade da votação de dia 2 ser truncada.

Anónimo disse...

Concordo plenamente com JD. O Rei D. Juan Carlos brilhou (apesar de, com certeza, já estar arrependido) ao mandar calar um Presidente que tem todos os tiques de autoritarismo mas defende-se com a ideia de uma falsa democracia e a eterna arma da diplomacia! Ainda bem que alguém lhe fez frente!