segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Tudo menos ateu

A religião, foco de tensão em muitos pontos do globo, é o que mais ordena. Desengane-se quem pense que ser homossexual é a grande desvantagem para ser eleito nos Estados Unidos. Neste país, pior do que ser candidato gay é ser candidato ateu. Segundo um estudo da Gallup, feito em 1999, conclui-se que o estatuto dos ateus é hoje igual ao dos homossexuais no final dos anos 50.

Na sondagem efectuada perguntava-se aos americanos se votariam numa pessoa bem habilitada:

- se fosse mulher: 95% responderam sim;
- se fosse católica: 94%;
- se fosse judia: 92%;
- se fosse negra: 92%;
- se fosse mórmon: 79%;
- se fosse homossexual: 79%;
- se fosse ateia: 49%.

Na corrida de 2009 à Casa Branca não há nenhum candidato agnóstico ou ateu. Três “urras” à tolerância religiosa do país mais beato da Cristandade.

3 comentários:

NC disse...

Neste aspecto os EUA são de facto uma realidade muito diferente da europeia.

Acho que exageras ao insinuar intolerância religiosa a partir destes dados (não és o único). Em primeiro lugar porque o conceito de tolerância religiosa está mais ligado à existência de múltiplas religiões ou à tolerância para com diferentes conceitos de moral. Talvez em termos (muuuito) filosóficos possamos admitir que o ateísmo é uma religião: e aí talvez se pudesse atribuir algum grau de intolerância para com essa "religião".

Se os EUA são um país religioso ( comparado com a Europa) também não é menos verdade que contêm uma diversidade cultural muito grande. O sacro e o profano, o liberal e o conservador coexistem e extremam-se de uma forma que não é comum noutros pontos do globo. Os EUA são campeões na produção de pornografia, por exemplo. Portanto, também acho que essa visão de um país beato é enviesada. Existe uma América beata, mas existem muitas outras Américas.

Depois não nos podemos esquecer que os EUA foram fundados por refugiados religiosos fugindo de perseguições e conflitos religiosos na Velha Europa. O conceito de Liberdade presente na fundação dos EUA, prende-se essencialmente com a liberdade religiosa, ou seja, de não existir uma religião oficial e de poderem existir todas confissões religiosas.

Outra. Só uma franja muito pequena da população é qe vota (20%, se não estou em erro). Essa franja te características muito próprias e os candidatos procuram corresponder às suas expectativas. Provavelmente a minoria que vota é religiosa-não tenho dados para o fundamentar.

E finalmente, o juízo sob os padrões europeus é sempre cruel porque na Europa, desde a revolução francesa, se confunde o laicismo com o anticlericalismo. Ainda hoje.

Unknown disse...

Ateísmo não é religião. Acho uma ofensa aventar essa hipótese para a gente ateia. ;)

Concordo que há muitas Américas. Mas dos americanos que possivelmente votam, o facto mais inibidor é ser ateu (de acordo com o estudo).

É verdade que os pais fundadores dos Estados Unidos (Washington, Adams, Jefferson, etc.) redigiram a secularidade do país. Mas dois séculos depois é impossível dizer que a matriz secular venceu. O cristianismo domina os Estados Unidos, sobre diversas formas de religião.

Duas explicações para este facto: uma é a tese de conforto que a religião dá, já que os refugiados chegaram "orfãos" de família, e viram na religião o seu substituto; outra é o próprio mercado - partindo dessa secularidade, as várias Igrejas tiveram que lutar umas com as outras para se imporem, tornando-as muito fortes. (duas hipóteses avançadas por Richard Dawkins, em God's Delusion - A Desilusão de Deus, em português).

Mas penso que a maior razão para esta força da religião sobre o ateísmo nos Estados Unidos, é um problema de lobby. Os ateus não estão organizados, ao contrário de judeus, católicos, mórmons, etc., cuja influência junto da Casa Branca é enorme.

NC disse...

Talvez porque os ateus ainda não se sintam um povo. Ou por não se reunam semanalmente. Ou por não não terem um projecto com o que se identifiquem. Explicações possíveis...

Depois a questão do lobi. O que é que o torna menos legítimo que outros lobis? Também não é suposto o poder democrático ser submisso ao poder económico, etc... A independência do poder democrático face aos outros poderes é sempre um assunto espinhoso.