quarta-feira, 29 de outubro de 2008

As “pressões” sobre os jornalistas

Há uns anos, um director de um jornal disse-me: «qualquer que seja o assessor de imprensa de um PR ou PM, eu atendo sempre».
Tenho a certeza que esta prática é seguida pela maior parte dos directores dos media portugueses.
Logo, ao atender, como é que saberia se era uma pressão legítima ou ilegítima, uma conversa de rotina ou uma gestão de crise, mera agenda ou manobra de “spinning”?
Quem é mais poderoso? Eu sempre ouvi que a «última palavra é do jornalista». É essa a força do “gate keeper” que se foi atenuando com o tempo.
Assim, qual é a diferença entre pressões legítimas ou ilegítimas, quando se tem o poder? Dá-me vontade de responder à Jackson Pollock, quando lhe perguntaram como é que sabe que acabou um dos seus quadros: «como é que sabe que acabou de fazer amor?».
Não há virgens púdicas na relação poder político/poder mediático. Mas não só aqui.
É perfeitamente normal existirem conversas entre assessores/consultores e jornalistas. É que ambos querem o mesmo: boas notícias, bons conteúdos.
Por que é que não se fala de “namoro comunicacional”, que é em 90% dos casos a realidade diária da relação entre agentes de comunicação?
Como aqui se diz, então como é que ficam os poderosos? É que, neste momento, diria que nenhum director de imprensa escrita estaria nos dez homens mais poderosos do país.
Quanto mais nos falarem de «pressões ilegítimas», algo que é exponenciado por jornalistas, mais fica a ideia de «ruínas que proclamam o esplendor passado de um antigo monumento».
E quanto mais se falar de «pressões ilegítimas», mais nos permitem a imagem de Calimeros. Não conheço nenhuma imagem de poder assim.

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