terça-feira, 26 de agosto de 2008

Falta de estratégia é o Buraco Negro

Concordo com o Luis Paixão Martins (LPM), aqui.
Hoje em dia, por esse país fora, por onde existe a alma PSD, que argumentos utilizarão os mais ferrenhos laranjas nas discussões de cafés?
É que é nestas pequenas centelhas de vida que se alimentam os grandes partidos. Como diz, «a comunicação política é o cimento de uma determinada comunidade».
É do argumentário da direcção, e dos seus rostos mais fortes, que se consolidam as ideias e se vencem as pequenas discussões de bairro. Hoje, não existe argumentário. Adivinho que se fala de “credibilidade”, de “seriedade”da “senhora”, mas, do resto, os sociais-democratas devem estar a optar por falar da nova época de futebol do que do seu partido. Por um motivo: é que neste momento não o compreendem.
Da S. Caetano só vem silêncio…
Também sou dos que não sabem tudo e, por isso, como objectivo pessoal tenho o de todos os dias aprender mais alguma coisa.
Sigo este vácuo no PSD com curiosidade e com os meus “feelings”.
Mas aqui, ao contrário/ou acrescentando ao LPM acho que vivemos algo mais grave.
E se o silêncio é apenas a face visível da ausência de estratégia?
É que «se a falta de comunicação gera o caos», a ausência de estratégia é o Buraco Negro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, tudo piora se realmente é de um Buraco Negro que se fala. Politicamente, isso é do pior que pode haver, o facto de o que deveria ser o principal partido opositor estar no vácuo. Aliás, fazendo minhas as minhas palavras :-), permite-me que reescreva aqui uma coisinha:
Manuela Ferreira Leite parece ter lido Saramago em época de Memorial do Convento, e ficar-se pela frase «De que adianta entoar cânticos ou louvar sermões, se talvez só o silêncio seja verdadeiro» - citação de exactidão dúbia, tanto quanto a memória que a traz -, sem se ter apercebido que Bacon já dizia há mais tempo que «O silêncio é a virtude dos tolos».

Mas as citações sobre o silêncio são tantas quantas as cabeças que o não sabem guardar ou, pelo menos, guardar-lhe o devido respeito. É que o silêncio exige uma gestão rigorosa, não sendo tão eficaz como isso a presunção de “tabus” tão caros a ministros, primeiros ou não, actuais ou passados, nem tão pouco a perda da oportunidade de se fazer ouvir no meio da cacofonia, aproveitando o facto de ser voz rara, como o fez agora mesmo a responsável máxima do que deveria ser o principal partido da oposição.

Ao exigir a demissão do ministro responsável das polícias, Manuela Ferreira Leite deixa escapar a janela de oportunidade para a quebra do jejum de palavras, actos e aparições de peso - não, não falo de Fátima nem do Pontal, há coisas mais importantes -, para deixar cair na praça pública algo que deveria ter pensado antes de comunicar.

Manuela Ferreira Leite deveria ter tido em conta que não é a demissão do ministro que irá resolver o actual estado de insegurança de que o país padece. Ferreira Leite deveria também ter-se lembrado das espectaculares superesquadras que o governo de que fez parte resolveu implantar, acabando com o policiamento de proximidade. Devia lembrar-se de muito mais coisas mas, a lembrar-se, parece ter dificuldade em exprimí-las.

Talvez um novo período de silêncio de Manuela Ferreira Leite seja realmente aconselhável. Digamos que até ao próximo congresso daquele que deveria ser o principal partido da oposição. Porque para emitir o mais deprimente vácuo de ideias, projectos e opinião, basto eu, e não sou pago para isso.


É que, o que diz Scheinsohn para as empresas, é igualmente válido para os partidos políticos e, porque não, para a vida pública em geral:

Os critérios fundamentais para a elaboração de uma estratégia são a clareza, a coerência, a sinergia e os efeitos que se pretendem gerar nos públicos.
Uma empresa comunica sempre, que a isso se proponha ou não.
Comunicação é sinónimo de conduta e a “não conduta” não é possível, pelo que a “não comunicação” também não é possível.
Uma empresa interage quotidianamente com os seus empregados, com o mercado…, em geral, com a envolvente. É uma fantasia pensar que uma empresa pode “não comunicar”.
Uma empresa pode optar por não contactar com a comunicação social ou não realizar publicidade, mas isso não é “não comunicação”, mas sim “comunicação negativa”.
O “silêncio” pode chegar a ser eficaz como alternativa táctica, conjuntural e ocasional, num momento e ante uma circunstância determinada. Mas nunca o “não há comentários” há de ser considerado um instrumento estratégico recorrente, porque reiteramos que quando cremos estar fazendo “não comunicação”, estamos na verdade a provocar “comunicação negativa”.
Esta enorme complexidade própria da dinâmica da comunicação e da imagem corporativa determina que os executivos devam estar capacitados nesta matéria.


Abraço,
CJT

Anónimo disse...

Vou repetir aqui uns comentário que fiz no blogue do Paulo Gorjão a um post que ia no mesmo sentido que o seu, porque me parece que não está a analisar o conjunto dos acontecimentos no contexto, o que inverteria a conclusão que tirou:

“Tenho que discordar da sua conclusão [dizia que entendia ser necessário apresentar soluções para os problemas do país]. De um ponto de vista estratégico (o PSD quer primeiro ser eleito para depois ajudar o país) pasmo com a inteligência desta campanha de gestão de expectativas. Quanto mais tempo o PSD conseguir ficar calado melhor se sairá (continuará a ser criticado pelo silêncio mas esta crítica, pela sua repetição, perderá efeito), enquanto que o Governo continuará debaixo de fogo e sem capacidade de resposta imediata a todos os temas que a comunicação social encontrará todos os dias para encher os respectivos chouriços (a não ser que aconteça isto - http://br.youtube.com/watch?v=9wHFlxW606o). Parece Kutuzov a deixar dançar Napoleão. Saiba o PSD continuar o jogo e não me surpreenderia uma vitória nas eleições.”

Ao que juntei, após um comentário do Paulo Gorjão que dizia ser necessário mais do que silêncio para conquistar o eleitorado e que mantinha as suas dúvidas sobre esta eventual estratégia:

“Concordo em absoluto com o seu comentário, mas continuo a achar brilhante como pensamento estratégico o que isto (que seguramente existe e é parte de um todo consequente) anuncia. Em pouco tempo colocou todas as peças relevantes do jogo em movimentos favoráveis à actual liderança e ao partido - o PS e o Governo baralhados e descoordenados, o anterior líder do PSD a descapitalizar o que havia conseguido com o abandono do cargo, a comunicação social quase em silêncio sobre o PSD (compare-se com o que acontecia antes destas eleições em que se falava constantemente da fragmentação e desaparecimento deste) e o eleitorado cada vez mais insatisfeito com o estado do país (o que inevitavelmente cairá em cima do Governo). Deram um primeiro passo seguro e tiveram o tempo necessário para estruturar propostas políticas coerentes. O PSD, que parecia juntar-se ao PS a caminho disto (http://br.youtube.com/watch?v=9MBBr-a2KnM&feature=user), através de uma operação de uma brutal simplicidade (http://br.youtube.com/watch?v=jwMj3PJDxuo) parece-me iniciar um rumo conducente à vitória nas eleições. Bem sei que não chega, mas em poucos meses já fizeram mais do que eu acreditava ser possível fazer até às eleições (tiveram também a sorte (azar o nosso) de ter uma conjuntura económica e social especialmente desfavorável para um governo socialista).”